quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

RETALHOS DE VIDA DUM CIRURGIÃO

Introdução

Cheguei à idade em que se olha mais para trás do que para diante, mas não quero deixar de encarar o futuro de frente, vivendo o presente em função do que quero que aquele seja, e batendo-me para o conseguir.  Costuma-se dizer que “a vida é uma luta”, mas querem saber uma coisa? É que é mesmo.  Para uns mais que outros, alguns combatendo mais afincadamente, havendo os que chegam ao fim melhor que outros, mas em todos ela deixa marcas, que constituem uma experiência. E é assim, uma experiência, que as devemos encarar, no sentido de as podermos aproveitar para ir aprendendo a agir e a reagir da melhor maneira ao que nos vai acontecendo. É hábito dizer, também, que no fim da vida é que estaríamos em melhores condições de a começar, mas, infelizmente, tal não se pode experimentar. E, na verdade, não sei se quereria: isso tirar-nos-ia a excitação da descoberta, da aprendizagem, das sensações novas, que constituem muito do prazer de viver, sendo certo que muita dessa experiência seria muito útil para saber encarar adequadamente o presente e preparar correctamente o futuro.  Claro que um modo de conjugar tudo isto será procurar transmitir aos mais novos a experiência dos mais velhos. Tarefa difícil, pela própria definição de juventude… E porque cada um tem de arranjar a sua própria experiência, isto é, tem de viver…

Seja como for, passou-me pela cabeça e resolvi aproveitar a rede social e ir apresentando nesta página, periodicamente, textos que publiquei dispersamente ao longo dos últimos anos em várias revistas e jornais, ou reuni em dois livros, “Farpas pela nossa Saúde” e “Newsletter da Cirurgia C”. Porque os tempos que correm mos fazem evocar, e se calhar porque me dá prazer revisitá-los. E também na esperança que sirvam para alguma coisa aos colegas mais novos, e haja mais velhos que neles se revejam. E, ainda, permitir que doentes – que somos nós todos, afinal, mais tarde ou mais cedo… - tenham uma ideia do que os médicos – neste caso, eu – possam pensar e sentir no exercício da sua profissão.

E aqui vai hoje o primeiro.

2 comentários:

  1. O Prof. Costa Almeida apresenta de forma exemplar a importância da relação médico-doente. Concordo totalmente com o que escreve e muito gostaria que este mensagem chegasse (e tivesse impacto) aos responsáveis políticos, àqueles para quem os números de cirurgias, consultas e atos médicos em geral, são o que conta.
    Temos de nos interrogar: como fica a relação médico-doente, quando se reduzem tempos de consulta, número de médicos nas equipas de urgência e gestão do ato médico sobretudo através do computador e outros equipamentos? Receio bem que cada vez mais se troque a relação médico-doente pela relação médico-computador...

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    1. Muito obrigado pelo comentário, muito justo e certeiro, e que toca pontos cruciais da nossa actividade enquanto médicos.

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