A RESPONSABILIZAÇÃO DOS GESTORES PÚBLICOS DA SAÚDE
A responsabilização dos gestores
públicos da Saúde (ou dos gestores da Saúde pública) tem de ser uma realidade
iniludível, e não apenas no papel ou no campo teórico.
"O direito constitucional à
saúde está intrinsecamente associado ao direito elementar à vida, ocorrendo a
sua violação quando este tenha sido, ou esteja a ser, colocado em risco por
força de uma conduta omissiva ou, pior ainda, de uma actuação por parte do
Estado, e de quem nele detém poderes e competências de decisão e gestão na área
da saúde, que propicie ou potencie aquele risco, ou de que decorra mesmo um
dano concreto." (Ana Costa Almeida, O
direito à Saúde)
Portanto,
quando a saúde dos cidadãos do país ou duma sua
região é posta em causa, ao não lhe serem dadas as melhores
condições ou, pior ainda, ao retirar-lhe essas condições,
com manifesto desprezo pelos utentes e pelos profissionais de saúde que
protestam veementemente por isso, os gestores de saúde implicados têm de ser
responsabilizados. A lei obriga a isso. E o bom senso. E a Saúde,
bem supremo, perdida!
Quando funcionários postos a gerir um
Hospital onde nunca trabalharam e que não conhecem, tomam medidas volúveis que
levam ao seu desmantelamento como Hospital, ignorando acintosamente toda a sua
capacidade instalada e usada, com tanta qualidade que é defendido com unhas e
dentes por todos os seus utentes e profissionais, substituindo-o por algo que é
apresentado como uma trapalhada, uma mão cheia de nada, ainda por cima com
gasto de mais de quatro milhões de euros, têm de ser responsabilizados. Desde
logo por todas as pessoas que sofrem com isso no seu direito à saúde. E,
se esse aspecto afinal interessar a quem governa, por quem governa, e que
também é responsável. E pela Lei, se se tiver de chegar a isso,
por parte das populações lesadas.
Como
disse há pouco tempo um antigo ministro da saúde, só um cego não consegue ver que
a saúde em Coimbra está com problemas. Problemas derivados da fusão hospitalar
levada a cabo em nove anos. Mas pior do que cegos são os que não querem ver
isso, são responsáveis por isso, e continuam. Agravando os problemas.
Já
se percebeu que o HUC não se basta a si próprio enquanto Hospital, e necessita
do apoio externo doutro, ou doutros. E mesmo com o apoio que está a ter vive
com esforço, com a Urgência largamente superlotada, com muita dificuldade no
atendimento, as listas de espera para tudo a aumentar, uma sobrecarga de
trabalho de rotina que, para além de, naturalmente, piorar os resultados,
dificulta sobremaneira a diferenciação e a investigação que são próprias dum
Hospital Central, o que vai afastando dele formandos e profissionais com esse interesse
e capacidade. Mas por isto é que a pretensão de quem gere o CHUC de conseguir o
encerramento do Hospital dos Covões não vingou: faz falta. E também porque essa
falta é por demais sentida pelos seus utentes, comparando a assistência em saúde
que têm agora com a que tinham quando na realidade havia dois Hospitais Gerais
Centrais em Coimbra e não apenas um com um acrescento do outro lado do rio.
Pois
é claro que os problemas da Saúde em Coimbra – provocando manifestações de rua,
declarações de políticos, Petição à Assembleia da República – derivam da fusão
dos dois Hospitais Gerais Centrais de Coimbra, com desmantelamento dum deles, acabando
este embora por ter de ser apenas parcial, e já se entendeu porquê… A dita
fusão, e a maneira como foi feita e está a ser gerida, constitui uma desqualificação
dos cuidados hospitalares em Coimbra e na Região Centro, e do acesso dos seus
utentes a eles, com deterioração da assistência que lhes é fornecida nessa
área, configurando isto “uma violação do seu direito à Saúde, já que posto em risco por força
de uma conduta omissiva ou, pior ainda, de uma actuação por parte do Estado, e
de quem nele detém poderes e competências de decisão e gestão na área da saúde,
que propicia ou potencia aquele risco, e de que decorre mesmo um dano
concreto”.
Mas
mais extraordinária ainda, negativamente, é a atitude dos gestores da saúde em
Coimbra de quererem colocar um centro de “envelhecimento activo” no Hospital
dos Covões, em vez de o reactivarem como Hospital Geral Central, o que é obvia
e publicamente o indicado! Se entendem necessário e
prioritário, nos tempos que correm, criar um centro para ensinar os velhos a envelhecer activamente, e a
evitar na medida do possível o seu internamento (o envelhecimento activo ou ageing
é isso), e se para tal precisam dum edifício, têm o antigo Hospital
Pediátrico, onde podem gastar os quatro milhões da União Europeia com o fim a
que são destinados e salvarem-no da ruína. No centro da
cidade, e muito perto do HUC e da Faculdade de Medicina, esta onde dizem que
vão construir com aqueles mesmos milhões, ou outros, um edifício para fazer estudos e investigação naquela área.
Vejamos, aquela verba não foi atribuída
para fechar um Hospital! E escusam de gastar
dinheiro no Hospital dos Covões, como Hospital não
precisa! Além de que substituir um Hospital Geral Central totalmente e bem equipado por um centro de
treino para velhos evitarem o internamento hospitalar, deixando o outro Hospital Central de Coimbra completamente esgotado com trabalho e assoberbado com
doentes, é uma verdadeira inconsciência! De que alguém tem
de assumir a responsabilidade! Para o presente e para o futuro! E que, mais uma
vez, reforça a razão do pedido feito na Petição: “autonomia para o Hospital dos
Covões, porque o acesso à saúde é um direito e um dever”.
Os gestores públicos da Saúde,
ou os gestores da Saúde pública, não podem ficar impunes por actos ou omissões
lesivos da Saúde, têm se ser responsabilizados por eles! A Saúde das populações
a isso tem de obrigar. Para a sua salvaguarda.