E SE PARÁSSEMOS PARA PENSAR? E QUEM SABE VOLTAR ATRÁS?
O Serviço Nacional de
Saúde britânico (NHS) anuncia-se naquele país a caminho do fracasso. Ele que
serviu de exemplo ao nosso e que, tal como o português, durante anos funcionou
muito bem. No caso dele, literalmente de modo exemplar.
O que aconteceu?
Basicamente foram-lhe sendo introduzidas alterações que se mostraram negativas,
depois desastrosas, a médio e longo prazo. E chegámos a este momento. E aos que
se lhe seguirão, na senda do caminho percorrido até agora, se não for modificado.
Para nós o mais
preocupante é que, para além de ser um serviço de que o nosso basicamente foi
decalcado, as alterações que levaram à sua degradação também foram copiadas
para o nosso SNS. Mais tarde, de modo que os mesmos efeitos se seguirão às
mesmas causas no seu tempo próprio...
É claro que o facto de o nosso serviço
nacional de saúde ser uma espécie de cópia tardia do britânico, poderia dar-nos
a possibilidade de ir atempadamente corrigindo o que naquele se mostrou mal
feito. Mas, para isso, seria necessário que quem levou aos maus resultados, e
quem os acompanhou, e eventualmente os agravou, os reconhecesse como tal, os
assumisse, os anunciasse à sociedade. Para que se alterassem de imediato as
causas, de modo a evitar e a reverter os efeitos indesejáveis. Ora,
surpreendentemente, não é isso que tem acontecido! Lá como cá. Mesmo que, e
relutantemente, os responsáveis pela Saúde vão reconhecendo que o que
funcionava bem em tempos agora não funciona (porque há termo de comparação!),
as razões apontadas para tal procura-se, sistematicamente, que se mantenham externas
ao que se fez nas mais variadas áreas (incluindo na organização médica), ao que
nelas se mudou, ao que se alterou, e que obviamente levou ao que se tem agora.
Nada de aceitar que foram erros, nada de entender que nem tudo o que se pensou
ser para melhor assim resultou! Teimosamente invoca-se apenas que as condições
mudaram… Quando muito dessa mudança, que é óbvia, foi condicionada também, e
nalguns aspectos até sobretudo, pelo que foi feito mudar na estrutura que
suporta os serviços de saúde, nomeadamente na gestão hospitalar, clínica e administrativa,
na rede nacional de instituições públicas de saúde e nas carreiras profissionais,
acima de tudo nas carreiras médicas.
E essa incapacidade
de reconhecer os erros (muitas vezes próprios, por parte dos dirigentes e profissionais
na área da Saúde) é acompanhada por outra, ainda mais preocupante: a de vislumbrar
uma solução. Na realidade, as duas juntas consubstanciam a situação: está-se
dentro dum túnel, não se sabe como para lá se entrou nem, portanto, como se
poderá de lá sair…
A situação no Reino Unido é complicada, e a portuguesa acompanha-a paralelamente. Não será altura de pararmos para pensar? Diz o povo que, quando se está dentro dum buraco que escavámos e de que não se sabe já para que lado é a saída, a primeira coisa a fazer é parar de cavar. Que tal se, em vez de continuarmos pelo caminho que, em muitos aspectos do que se anunciava “moderno”, e “diferente”, como “lá fora” (Reino Unido?...), se revelou errado, procurarmos perceber, sem complexos, o que correu mal? E, quem sabe, recuar nalgumas áreas? Para posições confortáveis e seguras (e que se sabe que o são, porque já lá estivemos antes…), donde se possa então progredir doutro modo para um futuro melhor do que o presente que temos agora.
As guerras têm-nos demonstrado uma coisa às vezes esquecida na ânsia
cega de avançar: recuar nem sempre é sinal de derrota ou de fraqueza, pode ser,
pelo contrário, o começo dum avanço vitorioso. E quer parecer que para a saúde
dos Serviços Nacionais de Saúde britânico e português é o que se precisa,
quando o que se tinha antes era melhor que o que se tem agora. Esperemos que quem
de direito acabe por perceber isso, e parem de cavar e de nos meter cada vez
mais no buraco, cada vez mais longe da saída. A não ser que o objectivo de quem
de direito seja mesmo esse… Mas vamos acreditar que não.