terça-feira, 16 de junho de 2020

NO RESCALDO DUM DEBATE SOBRE O FUTURO DOS COVÕES

Congratula-se quem teve a ideia e a coragem de promover um debate sobre os Covões. Que é como diz, sobre o CHUC, porque as duas coisas são indestrinçáveis. E coragem porque dum debate aberto de ideias resulta exposto o que cada um pensa e, na realidade quer, e as razões que os movem a todos.
Ficou claro neste debate, promovido pelo PSD de Coimbra, que quanto ao tema há apenas, globalmente, duas posições. Uma, defendida pelo povo que saiu à rua acompanhando muitos profissionais, pela qual o Hospital dos Covões tem de ser isso mesmo, um Hospital, capaz de fazer frente a uma pandemia como de tratar os doentes que a ele acorram no dia a dia, e querem acorrer. E que a sua fusão no CHUC, e o modo como ela foi feita, fez com que deixasse de ser. A outra, defende que continue a ser aquilo em que nos nove anos de fusão o tentaram tornar, que é uma "coisa qualquer" que não um Hospital. A dúvida para esses está apenas em escolher que coisa há-de ser, mas sempre como acrescento do HUC, o único hospital geral central que pretendem que haja em Coimbra.
As duas posições ressaltaram perfeitamente claras. A segunda até no repúdio de falar do passado, de há nove anos apenas, de quando as pessoas de Coimbra não saíam à rua para reclamar por melhores cuidados de saúde, não iam pedir segundas opiniões a Lisboa ou ao Porto, nem recorriam às Urgências nessas cidades (essas sim, referências da Saúde no nosso país...) , nem esperavam por especialistas vindos de fora de Coimbra dar consultas em instituições privadas nesta cidade, nem iam cada vez mais ser tratadas em Lisboa ou no Porto. No repudiar que se fale dum passado tão recente, em que Coimbra era uma referência na saúde. Que os doentes procuravam e em que os jovens médicos queriam vir formar-se e onde queriam ficar a trabalhar. O passado tão recente e de tanto êxito é apontado condescendentemente como "coisa do passado", e dizem que é preciso é procurar "qualquer coisa" diferente do que existe e foi começado de há nove anos para cá, porque já se viu que o que foi feito não serve a saúde publica nesta cidade e na Região Centro, e que o povo já se apercebeu disso.
Os que querem que o Hospital dos Covões volte a ser um Hospital são uns revivalistas. Porque querem reviver numa cidade em que a Saúde não era um problema, e para isso querem que se desfaça o que nesse campo foi mal feito nos últimos anos.
Os outros todos querem, na verdade, manter o que foi feito. Isto é, que Coimbra tenha apenas um único Hospital Geral Central (o IPO não é um é Hospital Geral, é um Hospital Especializado, e, aliás, escapou à fusão apenas porque a sua administração não quis...), e tenha depois "umas coisas" feitas "nos Covões". Ou cirurgia de ambulatório e umas consultas, ou dois ou três serviços "de ponta", ou uns laboratórios, ou um centro de investigação (que já foi criado após a fusão, aliás, e nunca funcionou!), ou um centro de estudo de geriatria, ou de rejuvenescimento de velhos, ou um lar de idosos. Ou um centro de pandemias, que sem ser um Hospital polivalente não sei como seria... Enfim, uma coisa qualquer, Hospital é que não, que é o que as pessoas precisam e querem! Ficou claro que, para estes, isso é que não. Hospital em Coimbra há só um, o de Celas e mais nenhum. Até porque para mais hospitais já temos os privados, isso não se pode esquecer...
Ficaram as posições bem definidas. Quem quer o Hospital a funcionar de novo como Hospital, devolvido aos seus doentes, e quem o quer desmembrado, fragmentado, dividido em bocados. A dúvida para estes reside apenas com que bocados deve ficar. Ou antes, com que bocados podem ficar os que por lá ficarem.
Não entendem os que lhe anseiam pelos bocados que nunca os poderão ter se o resto tiver desaparecido, se não trabalharem num Hospital, com intercâmbio constante com os colegas que lhes tratam os mesmos doentes, mas sim num sítio com uns aparelhos e uns profissionais de saúde. Não querem ver, na sua ânsia pessoal, que um Hospital é muito mais do que isso, e cada um, na sua área, só pode progredir se estiver incluído num conjunto bem organizado, interactivo, com uma dimensão apropriada e funcional, lutando todos pelo mesmo objectivo: tratar cada doente da melhor maneira possível, Nestas condições, todos juntos são muito mais que a soma das partes. Que é o que se passava antes. Desculpem lá falar do passado. De há nove aninhos...
In Campeão das Províncias, Junho 2020


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