.OS VELHOS, A MEDICINA E A MORTE
A propósito da maior mortalidade dos velhos nesta
pandemia de covid-19, e de, por isso, uns quererem resguardá.los, e outros
acharem que se morrerem, paciência, não fazem mais do que o esperado....
lembrei.me duma história, verídica, que vou contar.
Na Urgência do Hospital dos Covões, um dia, recebemos
um velho de 92 anos com um abcesso hepático, provocado por uma espinha de
bacalhau que lhe atravessara a parede do estômago, espetando-se no fígado. A
entrar em choque séptico, a arder em febre, havia absoluta urgência em ser
operado. E foi isso que os cirurgiões se aprestaram para fazer... apesar dos
seus 92 anos... Mas ele não queria! Queria lá ser operado! Não queria! Os
colegas, em desespero, chamaram-me para expor o caso e ao mesmo tempo tentar
convencê-lo. E eu entrei a matar com ele: "Oiça, se o senhor não for
operado, morre!". O velho olhou para mim de repente, empertigou-se no
leito, afogueado, febril, já a entrar em confusão mental, e respondeu:
"Olha pra este! Hás-de morrer primeiro que eu, ouviste?".
Acabou por ser operado, depois de quase perder a
consciência, e obtido o consentimento da família que o levara ao Hospital e
ansiosamente esperava na Urgência, Correu tudo bem, e teve alta curado dez dias
depois.
Quanto à profecia que me atirou, não sei... Para já
vou-me aguentando... mas ele se calhar também.
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