O QUE O CORONAVIRUS VEIO MOSTRAR A COIMBRA
O mundo está a viver uma
epidemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Tal como outras
doenças virusais, incluindo a gripe, a covid-19 não tem tratamento especifico
eficaz. É uma doença autolimitada, quer
dizer, que desaparece por si, mas que evolui de modo diferente consoante os
doentes, desde ser assintomática até ser letal, e o que há a fazer é manter o
doente vivo até a doença se desvanecer e o doente se curar, ficando
imunizado. A maior incidência patológica do novo coronavírus é na árvore
respiratória, com estabelecimento de pneumonia, mas tem também eventuais
repercussões noutros órgãos e sistemas, como os rins, podendo acabar numa
falência orgânica múltipla que causa a morte. Por isso os casos mais graves têm
absoluta necessidade de unidades de cuidados intensivos e suporte ventilatório,
além do contributo de várias especialidades médicas. A taxa de mortalidade no nosso
país anda à volta de 1%, mas a esmagadora maioria de doentes podem ser tratados
em casa. Que é onde devem ser confinados todos os infectados que não necessitam
de internamento, bem como os suspeitos de infecção e, numa tentativa máxima de
atrasar a disseminação da doença, todos os que lá se puderem manter.
O maior problema que
se coloca é a da eventual falta de meios para tratar os que disso necessitem em
ambiente hospitalar, pela complexidade de meios a que isso obriga e pelo rápido
crescimento do número de infectados doentes. Há, pois, que acautelar a
disponibilidade desses meios, na quantidade do que for necessário. Com esse
objectivo, no mundo inteiro se procurou aumentar o número de camas para esse
tratamento: ou se construíram hospitais de raiz para isso, ou se instalaram
hospitais de campanha, ou tendas, ou se reservaram clinicas particulares ou até
hotéis, para ter camas suficientes para eventualmente albergarem doentes desta
doença.
Em Coimbra foi
decidido reservar o Hospital dos Covões para o tratamento hospitalar da covid-19.
Assim, este Hospital foi considerado um Hospital de referência para o
tratamento desta pandemia. Pois ainda bem que ele existe, e que Coimbra
continua a ter dois Hospitais Gerais Centrais. Porque só assim o tratamento
desta doença pode ser concentrado num deles. Num Hospital que tem todas as
condições técnicas e tecnológicas que permitem esse tratamento, complexo que é.
Num Hospital de que alguém em Coimbra ainda há bem pouco tempo dizia que
necessitaria de milhões de euros de investimento para poder dar apoio a uma
Maternidade como Hospital Geral… E agora, sem se gastar um cêntimo, de um mês
para o outro, é um Hospital de Referência numa epidemia mundial! Com todos os
meios que são necessários para tal…
Mas ainda bem que
assim é. Porque se o Hospital dos Covões não existisse mais como Hospital Geral
Central, e tivesse sido transformado numa outra coisa qualquer, para onde iriam
agora estes doentes? Encher ainda mais o HUC? Ou talvez para uma tenda de
campanha à entrada da sua Urgência, como aconteceu noutros hospitais?... Bom, e
poderia ser assim porque entretanto não construíram a nova Maternidade nesse
espaço, já que nesse caso nem lugar haveria para essa tenda!
É claro que é
importante não espalhar estes doentes por vários hospitais, e por várias
enfermarias. E se tem procurado mantê-los nos hospitais de referência, tanto
quanto possível. aumentando, nestes, as
camas disponíveis. Mas o que foi feito em Coimbra é que se esvaziou um Hospital
inteiro, com 96 % das camas utilizadas ocupadas, retirando de lá todos os
doentes que tinha, mandados para casa ou transferidos de hospital, para ter
camas vagas para os doentes de covid-19. E a Urgência fica apenas para esses
doentes, sendo que os que foram entretanto tratados no Hospital e são lá
seguidos, terão de se dirigir a procurar ajuda, inclusivamente urgente, noutro local,
ainda por cima com as restrições agora exigidas. Não houve a decisão de abrir
as muitas camas (mais de cem) que continuam fechadas no Hospital dos Covões.
Nem nesta emergência! Elas mantêm-se encerradas, inúteis, e nem a necessidade óbvia
de, tal como em todo o mundo se fez, aumentar recursos para uma doença nova que
se apresentou de repente em números galopantes, as levou a ser de novo abertas.
E, daí, a acumulação ainda maior de doentes no HUC vai ter as suas
consequências nefastas. Se é verdade que a procura pelos doentes agora é menor,
pelo confinamento em casa e pela redução de acidentes rodoviários pelo muito
menor volume de trânsito, é verdade também que todas as outras doenças não desapareceram,
muitas delas muito mais mortais que a covid-19, e cujo diagnóstico e tratamento
tardios serão o factor determinante do êxito letal dos doentes. Sem repercussão
nos noticiários, admite-se…
Em conclusão, o
Hospital dos Covões mostra-se, mais uma vez, como uma absoluta necessidade para
Coimbra enquanto Hospital Geral Central. Mas mesmo tendo de se reconhecer isso,
mantem-se limitado, truncado, querendo-se que funcione sempre e apenas como uma
ajuda, absolutamente indispensável, vital, ao que se insiste em que seja o
único Hospital Geral Central de Coimbra, o HUC, assoberbado e esgotado de
trabalho que este esteja.
Foi isto que o novo
coronavirus veio mostrar a Coimbra. Espera-se que Coimbra veja. E se lembre de
que já foi Capital da Saúde, quando tinha dois Hospitais Gerais Centrais. E que
ainda os tem…
Será que a população de
Coimbra e da zona centro não merece que as instalações e capacidade do Hospital
dos Covões sejam todas aproveitadas?! Sempre?...
In Campeão das Províncias, Coimbra, Março de 2020
In Campeão das Províncias, Coimbra, Março de 2020
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