A PROPÓSITO DE BURKAS, REGRAS SOCIAIS,
USOS E COSTUMES
Em 1981, trabalhava eu no St. Bartholomew´s Hospital, em Londres, a minha
mulher foi-me visitar e estar uns dias comigo. Num fim de tarde, depois das
sete horas, resolvi irmos com dois amigos, a Sandra e o Velupilai, ela de
Trinidad e Tobago, ele do Sri Lanka (antigo Ceilão), tomar um aperitivo ao bar
do Hotel Hilton, em Park Lane, antes de os levar a jantar a um restaurante
português, o Fado, perto do Harrods. As bebidas no bar do último andar do Hilton
eram apenas uma desculpa para de lá apreciar uma magnifica vista de Londres,
com o Hyde Park ali ao pé. Saindo do elevador
e chegados à porta, fomos barrados pelo porteiro. Ou melhor, eu fui impedido de
entrar, porque não tinha gravata, e àquela hora era imprescindível os cavalheiros
estarem vestidos formalmente, explicou-me educada mas firmemente o homem no seu
uniforme agaloado. O Ve tinha gravata. A minha primeira reacção, naturalmente,
foi de protesto e, depois, dado o inêxito dele, de retirada garbosa e ofendida. Mas, entretanto, pensei que o que eu realmente
queria era que a minha mulher disfrutasse da bela paisagem urbana visível para
lá daquela porta do bar… e para isso tínhamos lá ido de propósito… Então,
civilizadamente, sem mais discussão, deixei-os entrar e sentei-me quietamente
num sofá do hall, à espera que regressassem.
Daí a pouco saíram dum elevador cinco árabes, três homens e duas mulheres,
vestidos do modo típico, eles com aquela espécie de túnica branca e o manto por
cima da cabeça, elas de burka. Dirigiram-se, em animada conversa uns com os outros,
para a porta fronteira à do bar, a porta do restaurante. Cujo respectivo porteiro
se limitou a abrir e deixá-los entrar, com uma pequena vénia como cumprimento.
Fiquei a olhar. E pensei na gravata que costumava usar todos os dias de
trabalho e naquele dia fora do hospital não pusera, para estar mais à vontade.
Levantei-me e fui por curiosidade espreitar o menu afixado na porta do restaurante.
Lembro-me que na altura almoçava por menos de uma libra na cantina de hospital,
e ali uma sopa custava quatro libras. Entretanto os meus acompanhantes saíram e
fomos para o Fado, atravessando a pé um pouco do Hyde Park.
E, tem graça, recordando este episódio, vieram-me também à ideia os longos
relatos que o meu amigo Velupilai, GP (“general pactitioner”, ou clínico geral)
em Londres, me fez dos feitos épicos que os Portugueses deixaram na História da
sua ilha natal de Ceilão, juntamente com muitas palavras na língua local. E
lembro uma canção popular que ele me cantou, na língua de origem, em que se
fala que “os portugueses vieram para nos conquistar, e conquistaram porque eram
bons na guerra; mas, para alem disso, eram bons a cantar e a dançar, com mulheres
e a beber vinho tinto”. Se calhar não mudámos
muito ao longo dos últimos séculos…
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